Tenho acompanhado as notícias sobre a guerra na Ucrânia que começou há 11 dias atrás com uma sensação de que estamos presos num filme distópico. Ninguém nunca imaginou que estaríamos perto de uma Terceira Guerra Mundial em pleno século 21(toc, toc, toc).
Enquanto escrevo este artigo, a Rússia ocupa e reconhece Donetsk e Lugansk, duas repúblicas autoproclamadas como estados independentes, Kiev, Kharkiv e Mariupol estão sob bombardeio e mais de 1,5 milhão de ucranianos buscam refúgio em países vizinhos. Detalhe: somente mulheres e crianças podem sair do país. Homens de 18 a 60 anos devem ficar na Ucrânia e muitos deles estão se alistando para lutar contra invasão russa. São estudantes, médicos, contadores, enfermeiros e que nunca atiraram protegendo a sua cultura e seu território. Muitas famílias se despedem na fronteira sem saber se e quando voltarão a se encontrar.
O fato é que a guerra sempre fez parte da história humana. Há alguns séculos, o conceito de paz era um período de tranquilidade entre uma guerra e outra. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, pensamos que poderíamos estar livres de um novo conflito de escala mundial. A Guerra Fria e a corrida armamentista ajudaram a manter o frágil equilíbrio de poder entre o ocidente (EUA e Europa) e oriente (URSS).
Acredito que o acúmulo de poder é a maior causa das guerras. Quanto maior é a concentração de poder, maior será o impacto dos conflitos. Em qualquer coletivo humano, seja ele uma família, uma empresa, uma cidade ou um país quando há muita concentração de poder, os conflitantes lutarão como se suas vidas dependessem da vitória. Regimes autocratas sejam eles de direita ou de esquerda são o cúmulo da acumulação (pra ser duplamente redundante) de poder e todos nós conhecemos do que eles são capazes ao entrar em conflito.
Outro fator que devemos levar em conta é o que (ou quem) financia tais regimes. Yuval Harari, autor do best seller Homo Sapiens, comentou numa entrevista no canal do TED que por trás de todo ditador, existe a indústria do petróleo, do gás ou do carvão mineral. Ou seja, todo ditador está sentado sobre uma enorme pilha de combustíveis fósseis. O mapa a seguir confirma esta correlação.
Mapa de regimes políticos por país. Fonte: Our World in Data
Analisando mais profundamente, qual a causa raíz das guerras?
Tradições orientais afirmam que o que está dentro, está fora e o que a mente manifesta, se torna realidade.
Apesar de toda comodidade e conforto que a tecnologia oferece, a humanidade continua em guerra com sua própria mente e a paz mental é perturbada pelo apego ao poder e ao controle.
Enquanto as pessoas não se livrarem do apego ao poder, haverá guerras. Por isso, precisamos vencer primeiro a nossa guerra interna, nossa ganância por poder. Afinal, o poder nunca trouxe felicidade e o apego é a principal causa do sofrimento. Ou seja, o primeiro passo é mudar dentro para depois mudar fora.
Como mudar por dentro?
Autoconhecimento e meditação. Simples assim. Como está sua mente agora? É possível encontrar paz, contentamento e gratidão por alguns momentos?
Como mudar fora?
Se o que está dentro, está fora, à medida que formos desenvolvendo uma mente mais pacífica, abandonando o mindset de guerra e competição e nos livrando do apego ao poder e ao controle, podemos mudar a forma como nos relacionamos com nossa família, amigos e colegas de trabalho. Como é a sua relação com o outro? Baseada lógica da competição, do ganha-perde ou na lógica da colaboração, do ganha-ganha?
Num segundo nível, podemos criar práticas, estruturas e ferramentas para distribuir o poder nas organizações em que fazemos parte. Existem vários autores que tratam deste tema como Frederic Laloux (Reinventando as Organizações), Otto Scharmer (Teoria U), Laura Storm e Giles Hutchins (Liderança Regenerativa). Algumas ferramentas que utilizamos na cuidadoria para distribuir o poder são a Sociocracia e as Estruturas Libertadoras. Como está a distribuição de poder nas organizações das quais você faz parte? Concentrada no topo ou distribuída nas pontas?
Como mudanças por dentro afetam as mudanças para fora?
Quando aumentamos nossa capacidade de escutar e estar presente conseguimos resultados melhores nas intervenções em sistemas onde atuamos.
“A qualidade de uma intervenção depende do estado interno do interventor ” (William O’Brien)
É por isso que aqui na cuidadoria, mais do que nunca, seguimos firmes no nosso propósito construindo um mundo mais pacífico, reinventando a forma como nos organizamos através do desenvolvimento de líderes mais conscientes. É a nossa contribuição para que a paz prevaleça no mundo. Talvez seja uma utopia mas é disso que o mundo precisa hoje. Se você acredita que podemos juntos criar uma sociedade mais pacífica, e está curioso em como fazer, fica o convite para conhecer a nossa Formação de Líderes Evolutivos.