Nós sempre tivemos que nos adaptar às mudanças, desde os primórdios da nossa evolução. Mas a complexidade nos trouxe a um lugar de ter que criar e lidar com uma cultura de mudança! A mudança como parte do nosso fazer humano em todas as áreas da nossa vida. Para mudar é preciso conhecer, é preciso aprender. E o mundo moderno cria uma obsessão pelo imediatismo.
É o imediatismo que tem nos tirado da presença; a ansiedade nos tem deturpado a percepção da realidade e entramos no medo do novo. Acabamos por não experimentar mais e nos reduzimos a dissipar nossa energia e nosso tempo em consumir mais e mais informação. E informação é diferente de conhecimento.
A reflexão sobre o aprendizado e o conhecimento humano é muito antiga. No isolamento da pandemia, tenho dedicado um tempo para voltar a estudar filosofia. Tenho escutado a Professora Lucia Helena Galvão, Fernando Conrado, Charles Robin e outros professores que sabem transmitir a chamada “filosofia total”, ou seja, a filosofia teórica aliada à filosofia prática de uma forma absolutamente genuína e eficaz: conseguem rememorar para nós o ensinamento prático no qual mulheres e homens de todas as épocas se inspiraram no passado e que nós, muitas vezes, ignoramos a existência hoje em dia.
São preciosidades de Platão, Epicuro, Spinosa, Aristóteles e tantos outros, desde a filosofia grega clássica, a filosofia moderna alemã do século 19. Outro dia ouvia uma aula de filosofia sobre as 3 fases da construção do conhecimento: o aprendizado, a prática e o domínio.
O aprendizado como essa primeira etapa em que, uma vez tendo refletido sobre a infinidade de assuntos que queremos aprender, tem algo que nos toca mais, que nos envolve de corpo e alma: “Quero aprender a tocar piano!” E mergulhamos nos conceitos, nos princípios, conhecemos os métodos, vislumbramos os temas, a abordagem favorita, os autores mais apreciados.
Segundo os antigos, só uma vez tendo estudado (e muito!) a teoria sobre o novo campo de estudo é que iniciamos a prática. Hoje em dia, é muito comum nós nem mesmo estudarmos e queremos sair para a prática. Dada a nossa cultura imediatista contemporânea, muitas vezes essas fases acontecem ao mesmo tempo e confundirmos essas três etapas, tão diferentes uma da outra e tão essenciais para compreender o processo e passar pela experiência do aprendizado e do conhecimento.
Na fase da prática, tendo delimitado e estudado (teoricamente e muito!), vamos nos dedicar à experimentação, vamos buscar, listar e explorar todas as ferramentas que estiverem ao nosso alcance. É a fase da prática repetida e ritmada, observando nossa evolução e a construção do conhecimento que vai crescendo dentro de nós. É a fase da repetição dos padrões para conhecê-los. Só assim é possível ficar íntimo da linguagem nova que se apresenta para nós.
Fase 3: o domínio.
Na fase do domínio, uma vez tendo repetido muito os padrões escolhidos, depois de estudarmos muito e de ter, só então, praticado muito, podemos exercer o domínio do conhecimento novo. Exercer o domínio significa ser capaz de criar a partir dele. Como já conhecemos os padrões a fundo, agora podemos vislumbrar novas possibilidades, inovar, explorá-lo e deleitar-se a partir da manifestação concreta da nova habilidade.
É o domínio que nos faz mudar as circunstâncias, nos dá a plena capacidade de fazer a leitura do ambiente para melhor agir. É só o domínio que nos dá a capacidade de mudar as circunstâncias, mudar o ambiente à nossa volta e causar transformação.
Aproveite!
Patrizia Bittencourt