Por que abrir um espaço para falar de comunicação?
Responder a esta pergunta com as lentes do mundo corporativo é simples, pois o problema salta aos olhos todos os dias:
Segundo Peter Russell, 90% dos problemas em empresas são causados por alguma falha na comunicação (especialmente pela falta dela).
O número deveria ser alarmante, mas provavelmente nem assusta mais. Faz tempo que deixou de ser novidade e reclamar das falhas de comunicação é assunto típico nas conversas de corredor.
Porém, se observarmos a relevância desse dado para a quantidade de projetos não concluídos, para o retrabalho, perda de tempo, energia, talentos, engajamento e motivação gerados por má comunicação, abrir esta conversa é pra lá de urgente!
Uma organização é feita da colaboração. E colaboração é feita entre pessoas.
Por mais que haja sistemas, regras e processos, é no nível humano que a comunicação tem seu ponto crítico e seus resultados. Dependendo de sua qualidade, ela pode gerar engajamento e participação ou desestimular completamente equipes inteiras.
E aqui entra a palavra-chave para que a colaboração direcionada a um resultado aconteça: confiança.
Em uma visão ampla, não importa se estamos falando de uma empresa, produto, marca ou de uma pessoa, um líder, um grupo. O engajamento e a escolha por algo só acontecem quando há confiança. Por sua vez, confiança se estabelece pelo relacionamento, pela conexão emocional. Sempre no nível do humano! E é muito fácil perceber o quanto estes são itens escassos nos ambientes organizacionais.
Você se lembra quando foi a última vez que teve — realmente — uma boa conversa?
Como foi essa conversa?
Como você definiria uma boa comunicação?
Em geral, quando faço essa última pergunta, respostas como “transparente”, “aberta”, “franca”, “honesta”, “completa”, são algumas das que mais aparecem.
E por que em grande parte das organizações, muitas vezes mesmo com processos extremamente cuidados, a comunicação não contempla os pontos acima?
Talvez porque precisemos aprender a nos comunicar, trazendo para nossas interações — diálogos, reuniões, cafés — a franqueza, a abertura, a transparência, a completude. E aprender também a oferecer espaço para uma escuta real para a comunicação do outro.
Só aí, neste espaço, é possível haver acordos claros, resoluções de conflitos, entendimento, engajamento… confiança.
Isso remete ao termo “comunicação autêntica”, que tanto tem sido abordado ultimamente e a relevância de utilizarmos em nossas interações, ferramentas de abordagens como a comunicação não-violenta (CNV), escuta empática, coaching, investigação apreciativa, entre tantas outras.
Como seria se todos os ambientes organizacionais tivessem:
- reuniões efetivas;
- menos conflitos;
- menos retrabalho;
- feedbacks construtivos;
- mais espaço para expressão dos talentos dos colaboradores;
- mais espaço para as emoções, intuições e vulnerabilidade;
- pessoas que realmente se conhecem?
Com certeza teríamos também mais felicidade, mais saúde e mais resultado.
Isso é possível e já há diversos exemplos de empresas que operam e prosperam em sistemas que colocam a colaboração no foco da gestão. O ser humano acima de tudo, em uma via de mão dupla em que o engajamento pelos resultados da empresa considera igualmente o engajamento do indivíduo por seu autodesenvolvimento, saúde, qualidade de vida e inteireza nas relações.
Alguns nomes de grandes players com mais de 1000 funcionários: Patagonia, GoreTex, Ben & Jerry’s, entre outras.
Que tal levar uma cultura de comunicação autêntica para a sua organização?Pode parecer difícil inicialmente, mas às vezes um primeiro passo faz toda a diferença.
Quer uma dica? Que tal começar as reuniões com sua equipe com um check-in, em que cada pessoa tem um minuto para dizer como chega. Talvez alguém esteja cansado, gripado, se sentindo desgastado por ter cuidado do filho com febre durante a noite ou por ter trabalhado até tarde no dia anterior. E finalizar com um check out — “como você sai?” — da reunião. Talvez o colaborador que chegou cansado e desanimado tenha se energizado com o novo projeto ou mesmo recebido acolhimento e dicas para minimizar a febre do filho.
Sem julgamentos ou pressuposições e com simplicidade, dar um espaço para que as pessoas sejam ouvidas muitas vezes é o começo de uma relação de muito mais confiança e transparência.
E você? Como “sai” depois de ler esse texto?
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Este texto é parte de um convite à reflexão sobre um novo paradigma de vida, que leva em conta relacionar-se consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo a partir de um olhar que na cuidadoria — empresa da qual sou cocriadora — chamamos de economia do cuidar. E o mais interessante é que esse movimento pode começar hoje mesmo, com pequenas práticas que podem transformar a forma como nos relacionamos e trabalhamos. E, sim, é possível reinventar organizações inteiras com ferramentas que levem inteireza às relações e gestão com mais autonomia e confiança. E nós, da cuidadoria, desenvolvemos as lideranças para a economia do cuidar, com base nas novas economias e gestão horizontal, através de processos de aprendizagem customizados para equipes de organizações.