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Todo líder é um gestor, mas nem todo gestor é um líder?

Por Patrizia Bittencourt

Essa distinção entre liderança e gestão é fundamental e tem sido um tópico de discussão em teorias de administração e em ambientes organizacionais.

Nós nos deparamos bastante no nosso trabalho com uma certa confusão sobre esses termos gestão e liderança. Alguns afirmam que setrata das mesmas habilidades, quase como uma crença de que se refere a uma mesma atividade. Outros sabem da diferenças em aprofundar nas especificidades de cada uma.

É muito comum uma pessoa ser reconhecida por suas qualidades técnicas, que conhece muito bem determinados processos e atividades específicas, ser conduzido a uma posição de liderança. E essa pessoa ao se deparar com os desafios desincronizar a equipe pode ter dificuldades de delegar, de mentorar, de facilitar, de comunicar e de tomada de decisão pois o gestor manifesta uma liderança mais sistemática e mais focada nas entregas. É também comum um líder inspirador cercar-se de gestores porque ele próprio não tem determinadas competências de gestão.

Um líder, antes de tudo, se reconhece um líder antes de se tornar um efetivamente. Digamos que dentro de um gestor há um líder, ou um líder em potencial, mas nem sempre em um líder há um gestor, mas há um gestor em potencial. Ambos têm a potência da liderança e da gestão e ambos
podem aperfeiçoar suas habilidades. É por isso que encontramos muitos gestores-líderes e também líderes-gestores nas empresas. Ambos, líderes e gestores são reconhecidos como tal e na forma como conduzem o seu trabalho.

Alguns insights podem nos mostrar que há diferenças relevantes a discutir e ampliar a nossa percepção sobre essas habilidades.

Visão x Execução: líderes estabelecem uma visão clara e inspiradora para si mesmo, para a organização e para times. Líderes manifestam a sua intenção continuamente a cada novo objetivo, sua ação está baseada em valores dele e da organização, definindo e inspirando os outros. O
gestor conhece a fundo as estruturas e os sistemas, ele tem um papel mais tático pois concentra-se na execução diária de tarefas e processos, eles garantem que as metas sejam alcançadas eficientemente.

Pessoas x Tarefas: gestores organizam, planejam e controlam os recursos para alcançar os objetivos e estratégias da organização. Líderes se concentram nas relações, eles desenvolvem equipes, promovem o crescimento das pessoas e da organização. Eles estão atentos ao clima, ao engajamento, motivam osfuncionários.

Inovação x Estabilidade: a liderança está muitas vezes associada à inovação, à adaptação e à mudança. Líderes buscam novas abordagens, ideias e ferramentas. A gestão tende a manter a estabilidade e a consistência, pois gestores garantem que os processos existentes sejam seguidos.

Inspirar x Direcionar: os gestores têm habilidades de direcionar e supervisionar de forma efetiva, estão atentos, fornecem orientação, monitoram o desempenho de acordo com os cronogramas e entregas. Líderes anfitriam e influenciam os outros. Eles estão presentes, dão o exemplo positivo e motivam os funcionários.

Longo Prazo x Curto Prazo: líderes geralmente têm uma perspectiva de longo prazo e concentram-se em metas de longo prazo, eles sincronizam as necessidades das pessoas com as necessidades do negócio atentos à estratégia. A característica do gestor élidar com questões de curto prazo e garantia de que as operações diárias funcionem e fluam de acordo com os objetivos e estratégias do negócio.

Habilidades Adaptativas x Habilidades Técnicas: líderes são reconhecidos, geralmente, por suas habilidades adaptativas e interpessoais, como empatia, comunicação e inspiração, cruciais para a liderança eficaz. Os gestores, frequentemente, têm fortes habilidades técnicas, como organização, planejamento e análise, essenciais para a gestão eficaz.

Cultura x Processos: líderes moldam a cultura organizacional e osvalores, eles tomam decisões baseadas em valores e estabelecem o tom para o ambiente de trabalho, enquanto a característica dos gestores é concentrar-se em criar e melhorar processos eficientes para alcançar objetivos, tomam decisões baseadas nas estratégias e nas necessidades da organização.

Nós acreditamos que a liderança necessária ao nosso tempo é uma liderança anfitriã que seja de um líder ou de um gestor. Uma liderança facilitadora que mobiliza as pessoas de forma engajada, inspirada e produtiva.

É por isso que há uma advertência a ser feita: não se trata de manifestar que ser líder seja melhor ou pior do que ser gestor, ou o inverso. Não cabe um juízo de valor mas levantar pontos de percepção sobre as diferenças e complementaridades entre os dois e talvez chegar a esse papel da liderança contemporâneaque combina essas duas habilidades que é a do líder facilitador.

Partimos do princípio de que a liderança é uma habilidade humana passível de ser aprimorada e desenvolvida ao longo da vida. E essa premissa nos leva a considerar que todos nós temos características de quatro fases de desenvolvimento da ação do líder e elas coexistem em nós: o
líder fazedor, o líder herói, o líder mentor, o líder facilitador. Portanto há um caminho claro sobre a liderança facilitadora que se desenvolve com atitudes e habilidades relacionadas ao nível de motivação, auto conhecimento, auto liderança, autocontrole, preparo e conhecimento. É caminho do líder tornar-se um líder facilitador e é também um caminho do gestor tornar-se um líder facilitador.

Nos sistemas baseados na Autogestão, por exemplo, somos todos líderes, independentemente de cargo, poder ou posição. Considera-se que todos têm poder e não precisam ser “empoderados” por uma posição hierárquica. Todos funcionam como um sensor na organização. Não importa o que você faça, você tem liberdade de agir e se manifestar em nome dos valores, dos objetivos e
estratégias da organização. Não importa o que você faça, você tem liberdade e
responsabilidade de apontar necessidades, oportunidades, riscos e desafios que
você percebe acontecendo no ambiente. Essa é uma ideia radical e tem funcionado
melhor em função do nível de maturidade organizacional das pessoas e da cultura
da organização.

A Autogestão existe porque não somos heroínas e heróis. Líderes e gestores não são heróis. Eles frequentemente se sobrecarregam com atividades e responsabilidades. Mas hoje percebemos que o líder facilitador, a partir do auto conhecimento, consegue mobilizar, delegar, dar autonomia e distribuir poder, navegando muito bem nos dois universos, o da gestão e o da liderança. Como um guardião dos valores voltado para as pessoas e para as relações, o líder facilitador, ao mesmo tempo, atento aos processos e às entregas. Ele sabe que ele não tem todas as respostas e que não consegue fazer tudo sozinho. Ele conhece as pessoas a ponto de saber compartilhar parte da sua autoridade dando autonomia para as pessoas, criando um espírito colaborativo nos grupos onde navega.

Por exemplo, em uma implantação, no início de atividades de uma empresa, qual é o papel que pode
fazer a diferença? Um líder ou um gestor? Em uma fase posterior, de crescimento e estabilização dos processos, qual é o papel fundamental? Como seriam essas fases da empresa, a priori, com líderes facilitadores?

Líderes motivados estão atentos ao engajamento porque sabem que é essa a parte mais crítica da
gestão
, ainda mais em tempos incertos. Essa habilidade dos líderes é que torna uma organização resiliente, capaz de mobilizar pessoas e recursos para se adaptaràs mudanças rapidamente. Líderes são essenciais para o sucesso de uma organização. Uma liderança forte, identificada e uma gestão eficaz e reconhecida devem trabalhar em sintonia e com as pessoas para levar a empresa a novos patamares de qualidade,relevância e sucesso no tempo.