Em outubro de 2023, tive a honra de participar do evento Estratégias ESG em RH na ABRH Florianópolis. As perguntas norteadoras da minha fala foram:
Qual a relação entre Liderança, Cultura Organizacional e Governança?
Como agregar repertório e inspirar pessoas que trabalham com RH a serem protagonistas de mudanças e assumirem um papel estratégico em ESG?
Antes de tudo, vamos a algumas distinções:
Liderança: Aqui na cuidadoria definimos liderança como o privilégio de influenciar e tocar a vida de outras pessoas. Não tem a ver com cargo ou posição mas um conjunto de atitudes e competências que inspiram, engajam ou levam pessoas a colaborar em um objetivo comum.
Cultura Organizacional: Segundo Edgar Schein (Cultura Organizacional e Liderança, 2019), a cultura de um grupo pode ser definida como o aprendizado compartilhado acumulado desse grupo à medida que resolve seus problemas de adaptação externa e integração interna; que funcionou bem o suficiente para ser considerado válido e, portanto, para ser ensinado aos novos membros como a maneira correta de perceber, pensar, sentir e se comportar em relação a esses problemas.
Em termos mais simples, é o “jeitão” de como as coisas são feitas na organização ou como as pessoas se comportam e tomam decisões a partir de padrões considerados “corretos” para aquele grupo.
ESG: Do acrônimo em inglês Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), refere-se a um conjunto de de padrões e boas práticas para saber se uma empresa é ambientalmente sustentável, socialmente responsável e corretamente gerenciada. As empresas adotam práticas ESG para:
- Reduzir custos — Empresas com bom rating de ESG são vistas com melhor administradas e mais eficientes
- Melhorar a reputação da empresa — Consumidores estão cada vez mais inclinados em comprar de empresas que causam impacto positivo
- Fidelizar clientes — Clientes são mais fiéis a marcas que compartilham dos mesmos valores
- Sustentabilidade e Transparência — Organizações comprometidas com ESG tem práticas mais transparentes e sustentáveis, com políticas que promovem a proteção do meio ambiente e a responsabilidade social
- Acesso a crédito — Bancos e financeiras estão oferecendo linhas de crédito especiais para empresas que tem bom rating de ESG
Governança: No contexto de ESG, a governança refere-se à estrutura organizacional, processos e práticas que uma empresa adota para garantir uma gestão transparente, eficaz e ética. A governança corporativa destaca a importância de práticas de gestão transparentes, responsáveis e alinhadas com o interesse de todas as partes interessadas.
Como liderança, cultura organizacional e governança se relacionam?
Cultura e Liderança: A dança constante
A cultura de uma organização é um reflexo direto da liderança que a guia. Schein afirma que os líderes são os principais arquitetos da cultura e desempenham um papel fundamental em moldar e influenciar as normas e os valores da organização. Líderes modelam e influenciam a cultura através da definição de visão, valores, comportamentos desejados e indesejados, e principalmente, através de como vivem e tomam decisões a partir desses valores.
Governança e Cultura: Aliados Inseparáveis
A relação entre governança e cultura organizacional é evidente na forma como os processos são desenhados e controlados, as decisões são tomadas e os valores são aplicados. A governança define as estruturas e os processos, enquanto a cultura dá vida a essas estruturas, refletindo os valores compartilhados. A qualidade da governança muitas vezes é medida pela forma como ela se integra à cultura da organização.
A relação dinâmica entre liderança, cultura e governança
Para que uma organização tenha uma governança comprometida com metas ambientais e sociais, transparente e ética, é essencial que sua cultura também seja orientada por valores ESG.
Quando a governança e a cultura estão desconectadas os riscos para a organização aumentam consideravelmente. Decisões inconsistentes, falta de alinhamento de valores e perda de confiança são apenas alguns dos sintomas. Os líderes são desafiados a garantir que os princípios de cultura se integrem organicamente à governança, evitando brechas que possam minar a credibilidade e a estabilidade.
Uma case famoso de desconexão entre governança e cultura é o Dieselgate da Volkswagen. Em 2015 a VW foi protagonista de um dos maiores escândalos da indústria automobilística por ter falsificado testes de emissões de gases tóxicos em 11 milhões de carros.
Fonte: Autopapo
De acordo com a MSCI (Morgan Stanley Capital International) — empresa americana que publica indíces de desempenho das principais bolsas de valores — o rating ESG da Volkswagen em agosto de 2015 era BBB (empresas descritas por um histórico misto ou não excepcional de gerenciamento de riscos e oportunidades de ESG em relação a seus pares do setor). Após o escândalo o rating foi rebaixado para CCC (o mais baixo do sistema) e foi multada em 193 milhões de libras esterlinas.
“O escândalo da Volkswagen destaca a necessidade de análise ESG” — Fonte: MCSI
Na época, a cultura do medo e da competição interna aliada à pressão externa para que a Volkswagen produzisse carros menos poluentes era tanta que que os engenheiros desenvolveram um sistema que fraudava os testes de gases poluentes. Um software detectava quando o carro estava sendo testado e alterava o funcionamento do motor para que ele emitisse menos gases. Isso mostra uma incoerência entre o discurso (compliance, relatórios e ratings) e a prática (cultura e governança). Se por um lado eles queriam mostrar aos investidores uma imagem de uma empresa preocupada com as pessoas e com o planeta, por outro havia uma cultura de pressão e resultados a todo custo.
Ter coerência entre liderança, cultura e governança não apenas cria organizações melhores para o planeta e para a sociedade como também mitiga riscos e aumenta sua própria resiliência.
Num mundo onde a integridade corporativa e a responsabilidade social são mais importantes do que nunca, ter uma liderança consciente, que entende e integra governança e cultura, é essencial.
Mais do que nunca, a área de RH pode ser aliada importante na causa ESG desenvolvendo líderes e culturas que possam dar vida às estruturas de governança a partir de valores como integridade, ética, trabalho digno, diversidade e inclusão, proteção do meio ambiente e responsabilidade social. Esta é a chance do RH se tornar estratégico ser parte da mudança que queremos ver no mundo.
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