“Com os movimentos da mão direita se define para os músicos o compasso e a velocidade com que a obra deve ser executada. Não fosse assim, cada músico tocaria à sua própria maneira – enquanto a plateia, provavelmente, sairia correndo. A mão esquerda também é muito importante. Ela se move junto com o resto do corpo, indicando o sentimento que a música deve exprimir – por exemplo, mais vibrante ou mais austera” _Maestro Gil Jardim.
A perspectiva de liderança sob a base de "perceber e responder" representa para mim um dos ensinamentos mais relevantes do livro "Reinventando as Organizações - Um guia para criar organizações inspiradas no próximo estágio da consciência humana" de Frederic Laloux.
Esse posicionamento de liderança pode ser percebido como um amalgama dos avanços das organizações que estão se aventurando em experiências mais sutis como a Autogestão, a Integralidade e o Propósito Evolutivo, em resposta a pressupostos de gestão baseados no medo e nos ônus e bônus da gestão tradicional.
Inspirada pelo livro, essa forma de sentir a sua própria capacidade de liderar ou “tocar a vida do outro” convida os líderes (e todos nós) a olhar as possibilidades de adotar uma abordagem mais intuitiva e conectada com o ambiente ao seu redor, rompendo com os paradigmas tradicionais de gestão. Essa visão promove uma liderança que se assemelha mais a uma dança com o inesperado do que a um comando rígido e previsível.
O “perceber & responder” como quase um mantra, uma atitude, uma forma de maturidade e de inteligência de liderança.
Imagine um líder que respeita o seu tempo de tomada de decisão, ou que decide a partir dos valores compartilhados da organização, ainda que pressionado por resultados imediatos. Isso não é evidente em uma cultura do controle focada no operacional. Essa cultura organizacional leva os líderes à exaustão e à falta da visão sistêmica, ao afastamento da estratégia, ao hiato da antecipação dos problemas e à atitude proativa de gestão de mudança para questões mais complexas que se apresentam. Sem uma compreensão clara de como suas ações impactam o todo, os líderes podem não perceber as vantagens de adotar uma abordagem mais estratégica a cada tarefa.
Imagine a liderança como uma arte de orquestrar. O líder atua como um maestro que não impõe sua vontade, mas sim escuta atentamente as nuances da orquestra, percebendo as vibrações de cada instrumento e harmonizando os talentos individuais em uma sinfonia coletiva. Esse tipo de liderança é intrinsecamente ligado ao conceito de propósito evolutivo que Laloux descreve como a capacidade de organizações se adaptarem e responderem ao que o mundo lhes pede, de forma fluida e orgânica.
No mundo de hoje, marcado pela complexidade e constantes mudanças, a capacidade de "perceber e responder" não é trivial e se torna um diferencial comportamental e de saúde mental estratégico. Essa postura de liderança desafia a lógica do controle e da previsibilidade, invalidando a busca por segurança e estabilidade em um mundo onde o desconhecido é a única constante. Ao invés de reagir automaticamente às pressões externas, o líder que pratica o "perceber & responder" abre espaço para novas possibilidades, permitindo que soluções inovadoras emerjam.
Esse estado de liderança requer uma confiança e um certo "relaxamento" internos, o líder se permite estar presente e disponível para o novo, ouvindo com profundidade e olhando para as situações como elas realmente são. É um estado que transcende a urgência e o stress, cultivando uma inteligência coletiva que valoriza a intuição e a criatividade. E isso toca o propósito evolutivo. Longe de ser apenas uma ideia abstrata, é preciso ver o propósito como uma prática diária de se sincronizar com a vocação genuína da organização.
Para os líderes que desejam incorporar essa visão, é crucial desenvolver uma mentalidade aberta e confiante, que valoriza a integralidade e a interconexão entre todos os membros da organização. Não se trata de não resolver os problemas, ao contrário, trata-se de mudar a forma de conduzi-los com calma e sabedoria. Isso implica em experimentar práticas e ambientes de trabalho que promovam a autonomia, a responsabilidade compartilhada e a inovação contínua. Ao desafiar as crenças limitantes e abraçar a dualidade (como um dos princípios universais incontornáveis!), e daí a ambiguidade e contradição e suas implicações, os líderes podem cultivar culturas organizacionais mais equilibradas, onde a confiança e a colaboração possam florescer.
A liderança sob a perspectiva do "perceber & responder" é uma jornada de autoconhecimento e conexão profunda com o propósito. É um convite para liderar não apenas com a mente, mas também com o coração, criando organizações que são não apenas resilientes, mas também capazes de se reinventar continuamente em resposta às demandas e preocupações do mundo que muda o tempo todo.
Nós temos mergulhado profundamente nesse universo da liderança nas empresas e esse é o ponto que mais nos chama a atenção, cuja prática consciente e aplicação intencionada é o que faz diferença real no dia a dia dos líderes.