“Nossa casa está em chamas” é o título do livro da ativista ambiental sueca Greta Thunberg, publicado em 2019 pela editora BestSeller. Esta afirmação nunca me pareceu tão verdadeira ao acompanhar as notícias sobre as queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal em 2024, o céu apocalíptico em São Paulo e a chuva negra em Ribeirão Preto. Isso sem contar a maior inundação da história do Rio Grande do Sul que deixou mais de 600 mil pessoas fora de casa e matou mais de uma centena de pessoas.
Se você também está se sentindo no filme “Não olhe para cima” em que dois astrônomos descobrem um cometa capaz de destruir a vida na Terra em rota de colisão com o planeta e ninguém parece dar bola, vivendo suas vidinhas ordinárias, postando selfies e assistindo videos de gatinhos, este artigo é para você e te convido a refletir sobre a seguinte pergunta:
Se estamos criando coletivamente um futuro que não queremos, como podemos mudar o foco e criar culturas regenerativas?
A primeira parte da pergunta diz respeito a uma sociedade que não consegue sair do modo de indulgência e consumismo provocado pela busca por individualidade, recompensas e pertencimento exacerbado pelo influência das redes sociais que nos aliena e nos controla.
Algoritmos cada vez mais potentes sabem exatamente onde estamos, como nos comportamos, como estamos nos sentindo, do que “precisamos” e nos alimentam com conteúdos e narrativas para vender mais e nos controlar. Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano autor de Sociedade do Cansaço (Editora Vozes, 2015) e Infocracia — Digitalização e Crise da Democracia (Editora Vozes, 2022) afirma que “a comunicação dirigida pelos algoritmos nas mídias sociais não é nem livre, nem democrática”.
Ouvi numa palestra de Ligia Zottini que o algoritmo da Meta consegue descobrir seu perfil sócio-político em 5 cliques. Não encontrei a fonte desta informação mas parece ser bem plausível. Uma coisa é certa: a Meta sabe qual é o seu espectro político, sua orientação sexual, seus hábitos de consumo, como você reage a determinados conteúdos e a sua probabilidade de compartilhar uma fake news.
Qual é o antídoto para não ser manipulado pelo algoritmo das redes sociais? Ligia Zottini afirma que se você não se conhece o bastante, o algoritmo te manipulará facilmente. Ou seja, o autoconhecimento e o desenvolvimento de habilidades como autogestão emocional, pensamento crítico, criação de sentido, presença e empatia são cruciais para sairmos da timeline atual e mudarmos para um futuro regenerativo.
A segunda parte da pergunta diz respeito a como mudar o foco e criar futuros regenerativos. Gosto das perguntas “como” porque remetem à ferramentas.
Uma das ferramentas poderosas para mudar o foco é o framework dos IDGs (Inner Development Goals ou ODI, Objetivos de Desenvolvimento Interior em português) que são um conjunto de habilidades e qualidades interiores essenciais para o desenvolvimento individual e organizacional.
As 23 habilidades interiores dos IDGs. Fonte: IDG
As perguntas que motivaram a criação dos IDGs foram as seguintes:
Se os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) existem desde 2015 e sabemos quais são suas metas, por que tão pouco foi feito? Por que continuamos falhando ano após ano as metas de diminuição de emissão de carbono? E por fim, quais são as habilidades internas que devemos desenvolver para lidar com os desafios complexos da humanidade?
A resposta não está falta de tecnologia ou de recursos, mas sim na falta de habilidades humanas para lidar com com tais desafios. A partir do desenvolvimento destas habilidades, podemos ajudar as indivíduos e líderes a obter clareza, resiliência, autenticidade e coragem para enfrentar os desafios complexos e incertos do mundo atual.
“Eu costumava acreditar que os principais problemas ambientais eram a perda da biodiversidade, o colapso dos ecossistemas e a mudança climática. Pensava que 30 anos de boa ciência poderia resolver esses problemas. Eu estava errado. Os principais problemas ambientais são o egoísmo, a ganância e a apatia e para lidar com isso precisamos de uma transformação cultural e espiritual. E nós cientistas não sabemos como fazer isso.” — Gus Speth
Quanto à última parte da pergunta sobre como criar culturas regenerativas, gostaria de compartilhar um sonho possível e desejável. E se pudéssemos liderar mudanças em organizações de forma que os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança) façam parte de seus valores? Para que todas as decisões envolvidas desde a contratação de pessoas ou fornecedores, desenvolvimento de produtos e serviços, relações com governos, comunidades e empregados, impacto ambiental e social fossem tomadas a partir de valores ESG?
Agora que você conseguiu visualizar o sonho comigo, voltemos aos “comos”. Existem muitas metodologias e ferraentas que podem apoiar essa transformação cultural. Aqui na cuidadoria costumamos falar que nunca começamos um projeto complexo sem mapa e bússola. Utilizamos uma ferramenta de diagnóstico de cultura baseado em valores ESG da Culturise que faz um mapa dos valores estratégicos e compara com os valores percebidos e desejados da organização. A ferramenta nos traz um mapa de quão distante a cultura atual da organização está em relação aos valores que suportam o pilares de ESG. Com base nesses dados e de entrevistas, mapeamos quais são ações que podem ser feitas que vão desde o desenvolvimento de lideranças com base nos IDGs, design organizacional, design e implementação de políticas, melhorias de processos e rituais, etc.
Na cuidadoria, acreditamos que o desenvolvimento humano é a chave para criar culturas organizacionais regenerativas. Convidamos todas as organizações a se juntarem a nós nessa jornada. Vamos juntos transformar nossas culturas e causar impactos sociais e ambientais positivos.
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