Em 2024 o termo ESG (sigla em inglês que significa Environmental, Social and Governance e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização) completou 20 anos. O termo foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins.
De lá pra cá, percebemos avanços (lentos porém importantes) nas áreas de investimentos sustentáveis, regulamentações governamentais, incentivos fiscais, políticas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) tanto nos setores públicos quanto privados.
Quando tudo parecia seguir em direção a um futuro mais regenerativo, o recém-empossado presidente dos EUA Donald Trump decide tirar o país do Acordo de Paris, intensificar a exploração de petróleo e acabar com as políticas de DEI. Seguindo essa tendência, empresas como X (ex-Twitter), Meta, Microsoft e Amazon começam a abandonar as agendas de diversidade.
Isto significa que o ESG acabou? Que empresas brasileiras também vão se alinhar com a visão negacionista e que tudo não passava de um engodo para conseguir mais investidores e clientes?

Para algumas empresas como a Natura, não. Ela reforçou publicamente seus compromissos com a sustentabilidade e os direitos humanos. De acordo com artigo da Exame, “em seu plano Visão 2030, a empresa estabelece metas ambiciosas, como a emissão líquida zero, a proteção da Amazônia e a promoção da diversidade e inclusão.”

Post de Yoon Jung Kim nas redes sociais
Nos próximos meses veremos um movimento que irá separar as organizações que realmente se preocupam com o futuro das próximas geração daquelas que não. Se você trabalha numa empresa comprometida com a pauta ESG como a Natura, não olhe para os lados, aproveite que o caminho está aberto e faça o melhor possível.
Agora, se você está numa organização que abandonou a pauta ESG e pedir demissão está fora de cogitação ou está numa empresa que ainda não adotou a pauta ESG, quero te convidar a conhecer uma abordagem que pode fazer a diferença no contexto atual.
Aikido Aplicado à Transformação Organizacional
Aikido é uma arte marcial japonesa desenvolvida pelo Mestre Morihei Ueshiba entre os anos 1930 e 1960. A palavra Aikido é formada por 3 caracteres chineses (合気道) é frequentemente traduzida como o caminho (道) da harmonia (合) com a energia vital (気). A característica mais marcante do Aikido é sua filosofia baseada na não-violência e técnicas que redirecionam a energia do adversário sem confronto direto.
Sou praticante da arte e meu mestre Altair Sensei sempre diz que o que se aprende no tatame deve ser aplicado na vida e depois do treino de ontem me coloquei a refletir como aplicar a filosofia do Aikido na liderança nesse contexto de retrocesso.
O Aikido ensina que a melhor forma de enfrentar um desafio não é o confronto direto, mas o redirecionamento inteligente da energia.
Princípios do Aikido Aplicados à Liderança
Princípio da não-resistência:
Não combater a força diretamente;
Redirecionar a energia existente;
Transformar confronto em oportunidade;
Movimento Circular
Usar a energia do oponente a seu favor;
Criar movimentos que dissolvem resistência;
Transformar confronto em colaboração
Centramento e Equilíbrio
Manter-se centrado em momentos de pressão;
Desenvolver resiliência interna;
Agir a partir de um estado de atenção plena e relaxamento
Esses princípios podem ser traduzidos em estratégias de redirecionamento como escuta ativa (compreender motivações reais, identificar medos subjacentes, ouvir as vozes das margens do sistema), diálogos convergentes (redesenhar discursos polarizadores, encontrar terrenos comuns, propor soluções que atendam às necessidades de todos) e proposição de valor (demonstrar benefícios econômicos da pauta ESG, traduzir benefícios sócio-ambientais em linguagem empresarial, alinhar sustentabilidade com resultados).
Framework de Transformação Baseado no Aikido
Observar (Zanshin):
Compreender o campo completo;
Suspender julgamentos;
Perceber movimentos sutis
Buscar o centro (Tanden):
Desenvolver o equilíbrio interno;
- Manter o foco no centro da sua energia;
- Cultivar resiliência
Redirecionar (Tenkan)
- Transformar resistências;
- Criar novos campos de possibilidade;
- Gerar colaboração
Conclusão
O Aikido não é uma luta, mas uma filosofia de vida que leva à transformação sem confronto direto.
Da mesma forma, o ESG não é um conjunto de práticas mas uma forma das organizações criarem impacto social e ambiental a partir das pessoas e das relações, independente se há incentivos diretos.
Se você ocupa um papel de liderança, utilize este privilégio para influenciar o sistema no qual você está inserido de dentro para fora, utilizando os princípios da não resistência e redirecionando a energia para criar resultados positivos para a organização, para o planeta e para a sociedade. Cada pessoa conta, cada processo conta.
“No Aikido nunca atacamos. Um ataque é prova de que se está fora de controle. Nunca fuja de qualquer tipo de desafio, mas também não tente suprimir ou controlar um oponente de forma antinatural. Deixe os atacantes virem do jeito que quiserem e então se harmonize com eles. Nunca persiga os oponentes. Redirecione cada ataque e posicione-se firmemente atrás dele.” — Morihei Ueshiba