O talento e criatividade são chaves para a produtividade no século 21. Entretanto, nada acontece sem ambiente favorável para fortalecer laços, conexões entre as pessoas e condições ambientais para que interações de qualidade e repetidas ocorram.
O mito do empreendedor inovador solitário, do inventor isolado é algo do passado, quase um “clichê desatualizado”.
Os pesquisadores viram, por exemplo, (e isso converge com inúmeras percepções de profissionais que trabalham com inovação), que há uma crescente compreensão de que a verdadeira descoberta vem de pessoas com pessoas fazendo o trabalho de inovação juntos, “remixando” ideias, aprofundando as possibilidades, desafiando o impossível, encarando as complexidades para chegar a ideias brilhantes.
Ponto1: Isso passa por uma combinação entre infraestrutura, ferramentas, tecnologia e a experiência das pessoas nos espaços. Ou seja, constituir os tipos de espaços certos pode apoiar as pessoas a compartilhar conhecimento, colaborar e construir as redes sociais de interação e confiança necessárias à solução de desafios.
O autor e especialista em inovação John Seely Brown diz: “as culturas que produzem constantemente inovação têm liderança visionária, um compromisso organizacional com o pensamento revolucionário e um lugar que apoia o trabalho da inovação”.
Ponto 2: a Geração Y que está se profissionalizando agora prefere trabalhar em ambientes mais abertos e flexíveis e que isto está criando um novo conjunto de requisitos para as organizações que querem inovar.
O talento não está apenas na geração Y, (ou “Millennials” nascidos entre 1980 e 1995), certamente. Entretanto, a fronteira da inovação está, inclusive, nesta convergência entre a força e energia dos jovens trabalhando com profissionais mais experientes, aproveitando todo o potencial e habilidades, competências, intuição e técnica ao mesmo tempo em equipes multidisciplinares e multigeracionais.
Um ponto essencial para preparar o terreno para a inovação aberta é desenvolver líderes facilitadores e a cultura da inovação (ou a mentalidade da qual se baseiam as estratégias de inovação). Estar alinhado à estratégia competitiva da organização é essencial para a inovação aberta, pois dela depende uma visão compartilhada.
Outro dia, ouvi de uma gestora de uma organização dizendo: “Ah, para inovar, precisamos mudar a cultura da organização antes…”
Será?
Não que para inovar se deva mudar a cultura antes, mas sim, criar ambiente para se ter uma visão compartilhada de inovação.
Partilhar uma visão compartilhada para a inovação faz com que se tenha a mesma estratégia de inovação com toda a organização, de preferência que seja com todos os níveis da empresa em todos os setores. Isto é importante porque inovação não é assunto de apenas uma equipe isolada na organização.
Cada organização encontrará sua maneira de preparar este terreno, usando seus recursos disponíveis e outros que ela buscará e combinará de forma efetiva. Essa visão deveria ser parte de uma sensibilização das pessoas, que incluísse a cocriação de de uma visão de futuro, objetivos e planos com equipes multidisciplinares em um estágio de preparação para a gestão das redes de colaboração de base inovativa.
Uma visão genuína de inovação é realmente coletiva. A organização faz questão de criar espaço para que as pessoas possam falar e serem ouvidas, sugerir e sentir que suas ideias são consideradas pela organização, no sentido de canalizar as forças da empresa para concretizar esforços de inovação. Ela é resultado de escuta ativa dos vários níveis da organização e isso não é tarefa evidente pois vai exigir da organização a capacidade de gerir uma avalanche de sugestões, opiniões, percepções…
As reuniões e vivências para os planos estratégicos da organização são um bom momento para criar e rever visões de inovação.
E criar ambiente para inovar vai além das estruturas organizacionais, normas, valores que permanecem na empresa ou sua cultura organizacional: “a maneira como fazemos as coisas por aqui”. Envolve prestar atenção a muitos fatores que vão desde o desenho organizacional da organização, a confiança e abertura gerados nas relações e os desafios e grau de envolvimento das pessoas, ou o “engajamento”.
É por essa razão que a um líder facilitador é que vai ser capaz de construir ambiente e favorecer o melhor clima, organizar-se com uso de práticas e ferramentas usadas com o intuito de melhorar as estruturas organizacionais para não matar a inovação.
Rosabeth KANTER, especialista em pensamento inovador (Gestão da Inovação, TIDD, 2015, p.136) dá uma lista bastante coerente dos fatores de clima e de cultura organizacionais que devemos evitar, pois elas matam o estímulo a novas ideias:
· Dominância de relações restritivas.
· Comunicações laterais precárias.
· Ferramentas e recursos limitados.
· Ordens de cima para baixo.
· Veículos de mudança restritos e formais.
· Reforço de uma cultura de inferioridade (por exemplo: “inovação sempre tem de vir de fora para ser boa”.
· Atividade inovadora sem foco.
· Práticas contábeis que não apoiam a inovação.
Como um exercício livre, trato a mesma lista de KANTER de forma apreciativa, para ver o que seria necessário para criar ambiente para inovação:
· Espaço para relações e interações mais abertas e flexíveis.
· Comunicações laterais eficazes e conversas coletivas.
· Acesso a ferramentas e recursos disponíveis.
· Liderança rotativa por projeto.
· Dispositivos de mudança alternativos.
· Reforço de uma cultura da inovação como uma atividade contínua e multidisciplinar.
· Atividade inovadora com foco e prioridades.
· Práticas contábeis e corporativas que apoiam a inovação em todas as áreas da organização.
Permitir espaços e ocasiões para que as pessoas de diferentes setores se falem mais, troquem e compartilhem mais, errem mais, sejam mais condescendentes com suas próprias falhas e com falhas dos colegas parece fácil, mas não é evidente resolver. É papel da liderança facilitadora abrir espaço onde as pessoas ficarão menos inseguras e mais abertas, aumentando e melhorando as interações internas e externas.
Isso levará à melhoria gradual do ambiente tornando-o mais propício para que as pessoas estejam mais pré-dispostas a ir fundo na sua curiosidade, com criatividade e esforço. Isso ajuda as pessoas a tentar mais, testar mais e arriscar mais. Boas ideias nascem em contextos assim.
Criar ambiente propício à inovação dentro da organização é portanto, buscar os recursos necessários, combiná-los e transformar também os ambientes físicos da organização.
Do ponto de vista de quem está 100% no front, segundo Matt Kingdon, da agência de inovação ? Whatif! (Gestão da Inovação, TIDD, 2015), mais do que ter pessoas preparadas, é importante, criar a “energia” da inovação, o clima para inovação (que é diferente da cultura de inovação). Ele diz que na vida, sem o estímulo certo, ficamos preguiçosos e letárgicos! E a mesma coisa acontece nos negócios:
“Coloque 50 colegas juntos e a diferença entre a inércia coletiva e a energia coletiva será imensa. Ou as pessoas se estimulam ou desestimulam mutuamente. Então, essa energia precisa de gerenciamento — mais do que qualquer outro recurso. Isso faz a diferença entre o sucesso e o fracasso da inovação”. (Matt Kingdon, da agência de inovação ?Whatif!)
Segundo Kingdon, há três grandes elementos para se chegar a uma boa equação favorável para gerenciar a energia da inovação: a atitude, os comportamentos e as estruturas necessárias:
· A atitude: ele relaciona a atitude à motivação das pessoas de quererem fazer algo bom, de deixar uma marca, de serem reconhecidas como uma parte fundamental da empresa. A experiência com grandes organizações mostrou que dinheiro raramente motiva ou afeta a “atitude”, tem mais a ver com a razão de que elas gostam do que a empresa está tentando alcançar e se sentem bem em fazer parte disso. Questões como visão e propósito são centrais para a inovação, pois fornecem a força vital para a energia criativa das pessoas.
· Os comportamentos: oespecialista já observou e acompanha muitas equipes de profissionais inovadores: ele diz que “a maior parte dos comportamentos que nós aprendemos e nos ajudaram a ter sucesso no trabalho é, na verdade, oposta aos comportamentos da inovação.” Os comportamentos de inovação mais úteis são cultivar algumas coisas como:
1. a novidade (tentar fazer coisas novas),
2. a estufa (cultivar uma ideia por meio da colaboração),
3. a realidade (transformar rapidamente uma ideia na forma em faça sentido para o cliente que irá consumi-la),
4. a coragem (ter firmeza para discordar) e
5. a sinalização (ajudar um grupo a transitar entre o comportamento criativo e o analítico).
Para Kingdon, sinalizar é uma verdadeira arte. Sinalizar vem de uma pessoa com inteligência emocional suficiente para ser capaz de comentar as dinâmicas do grupo: “vamos voltar um pouquinho, estamos indo tão fundo no aspecto econômico da ideia que vamos acabar esgotando-a. Sem esse comportamento, perde-se a linha que separa a análise e criatividade, e a inovação desaba.”
· As estruturas necessárias: Kingdon descreve as experiências relacionadas ao ambiente físico da organização para propiciar a energia da inovação: um espaço que permita a polinização cruzada de ideias entre as diversas especialidades que trabalham na empresa:
“A chave para assegurar a polinização cruzada se assemelha a um grande hangar de aeronaves, é o ‘coração’ da construção — o espaço central, amplo e aberto, onde o cérebro esquerdo (técnicos) e o cérebro direito (criativos) da empresa podem se encontrar, mesmo que estejam alojados em áreas separadas.” (Matt Kingdon, da agência de inovação ?Whatif!)
Sobre esse aspecto dos espaços físicos favoráveis à inovação dentro da organização, a Steelcase, um estúdio de arquitetura canadense fez um estudo sobre espaços físicos para inovação em conjunto com especialistas de agências de inovação como IDEO e pesquisadores da Universidade de Toronto. Eles reconheceram que 2 grandes aspectos movem a inovação:
O espaço e a experiência:
Steelcase Workplace Future https://www.steelcase.com/
O espaço é o palco principal para a experiência geral. É necessário trabalhar para apoiar os processos de negócios, influenciar positivamente a cultura e acomodar totalmente a tecnologia e as ferramentas apropriadas.
Os pesquisadores observaram na pesquisa e com suas vivências que quando esses elementos críticos estão perfeitamente integrados, é como se constituíssem numa espécie de “som surround” multidimensional que apoia as ideias bem-sucedidas, uma após a outra.
Um dos grandes desafios das organizações é reter talentos e manter equipes motivadas, pois os projetos são muito dinâmicos no tempo em que vivemos, pessoas entram e saem dos projetos e das organizações muito rapidamente. Estudos indicam que visão compartilhada para inovação é um dos fatores que favorecem a retenção de talentos nas empresas.
Mais uma razão para que a organização se dedique à liderança facilitadora voltada a criar e manter a sua visão compartilhada de inovação.