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Mudança Adaptativa: navegando complexidades através do equilíbrio de valores opostos

por Patrizia Bittencourt

Nas nossas organizações, somos a todo momento chamados a criar visões compartilhadas, chegar a um ponto em comum, ter uma visão única de propósito, de direcionamento. Mas, existiria limite para chegarmos a visões comuns, ideias compartilhadas, valores comuns, sentido coletivo?

No cenário de rápidas mudanças e desafios complexos, a Liderança Adaptativa emerge como uma abordagem crucial para guiar organizações e equipes. Um dos pilares fundamentais desta abordagem é a habilidade de "manter valores opostos em tensão", uma competência que redefine a forma como líderes enfrentam dilemas e tomam decisões.

Os sistemas empresariais, os mercados e setores estão cada vez mais dinâmicos e isso não é novidade. O acesso e a democratização das novas tecnologias favorecem e permitem o movimento constante de novos entrantes, agentes, informação e dados, a todo momento. E a tecnologia eleva a complexidade pelo aumento exponencial das transações e do aprendizado. A complexidade, portanto, é um movimento que só aumenta, não para e não tem volta.

Mas por que manter valores opostos em tensão?

Manter valores opostos em tensão significa abraçar a complexidade inerente aos desafios modernos, reconhecendo que muitas situações não possuem soluções simples ou binárias.

Considerar, portanto, que partimos do princípio de que o cenário é complexo, essa abordagem exige que os líderes:

  1. Reconheçam a validade de perspectivas aparentemente contraditórias
  2. Evitem o pensamento "ou/ou" em favor de uma mentalidade "e/e"
  3. Busquem soluções que integrem diferentes pontos de vista
  4. Desenvolvam conforto com a ambiguidade e a incerteza

Na prática, isso é possível?

Sim. Em um mundo cada vez mais diverso e interconectado, a capacidade de manter valores opostos em tensão torna-se um diferencial competitivo. Temos percebido que, de fato, isso se manifesta em uma maturidade da liderança e, por consequência, do sistema como um todo.

E as organizações que dominam esta habilidade são mais propensas a:

  • Adaptar-se rapidamente às mudanças de mercado
  • Construir culturas inclusivas e resilientes
  • Tomar decisões mais equilibradas e éticas
  • Equilibrar a gestão de expectativas, ponto crítico na complexidade
  • Inovar de forma sustentável

Para implementar esta abordagem, os líderes avançam quando se permitem a:

  1. Cultivar a escuta ativa e a empatia interna na construção das soluções
  2. Manter a escuta direta sobre o que de fato gera valor para dentro e para fora do sistema (clientes e stakeholders)
  3. Fomentar o diálogo aberto sobre dilemas organizacionais
  4. Criar espaços seguros para a expressão de ideias divergentes
  5. Modelar a tolerância à ambiguidade em suas próprias decisões

Para ajudar líderes a desenvolverem esta competência, considere as seguintes perguntas reflexivas:

  1. Quais são os valores ou objetivos aparentemente contraditórios que sua organização enfrenta atualmente?
  2. Como você tem lidado com situações nas quais não há uma resposta clara de "certo ou errado"?
  3. De que maneira você pode criar um ambiente onde perspectivas diversas são não apenas toleradas, mas ativamente buscadas e valorizadas?
  4. Quais são os riscos de buscar soluções simplistas para problemas complexos em sua organização?
  5. Como você pode desenvolver sua própria capacidade de conforto com a ambiguidade?
  6. De que forma sua equipe poderia se beneficiar ao abraçar a tensão entre diferentes valores ou objetivos?
  7. Quais são os exemplos de decisões passadas nas quais manter valores opostos em tensão poderia ter levado a melhores resultados?

A habilidade de manter valores opostos em tensão é mais do que uma competência de liderança; é uma mentalidade que permite navegar com mais leveza e sucesso na complexidade do mundo moderno. Ao abraçar esta abordagem, líderes podem criar organizações mais adaptáveis, inovadoras e resilientes, preparadas para enfrentar os desafios do presente e do futuro.

O caminho para a mudança adaptativa não é sobre eliminar tensões, mas sim sobre aprender a dançar com elas, transformando aparentes contradições em oportunidades para crescimento e inovação.

Essa perspectiva dual é considerada a fronteira do conhecimento e da prática em liderança nas circunstâncias da sociedade do conhecimento. Estamos vivenciando uma mudança contínua, onde a capacidade de adaptação e a disposição para abraçar a incerteza são fundamentais.

Ronald Heifetz, renomado professor e consultor, destacou a importância de mobilizar as pessoas para enfrentar problemas complexos e prosperar. Ele propõe que a liderança adaptativa é uma prática que apoia as pessoas a se ajustarem a novas situações, interpretando o contexto real e não ilusório, e utilizando o desequilíbrio como um motor de progresso. Essa abordagem incentiva o aprendizado contínuo, inspirando indivíduos a abandonarem métodos ultrapassados e a desenvolverem novas competências e uma mentalidade de experimentação.

Assim, a liderança adaptativa se torna uma ferramenta poderosa para navegar em um mundo em constante mudança, promovendo o crescimento pessoal e organizacional.

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