Visualizar claramente minhas crenças limitantes e compreender o quanto faço escolhas completamente inconscientes, me permite ser mais compassiva em relação a mim mesma e aos outros.
Um dos relatos que mais me chamaram a atenção, de pessoas que fizeram seu primeiro salto de paraquedas, foi o de uma amiga que me disse o seguinte:
“Do momento em que saltei do avião até a abertura do paraquedas, uma voz na minha cabeça gritava o mantra ‘vou morrer, vou morrer, vou morrer, vou morrer’… mas, da abertura do paraquedas em diante, imediatamente a voz mudou para ‘que maravilha, que maravilha, que maravilha!!!”
Geralmente, faço esta comparação com aquelas decisões que tomamos e que nos tiram da zona de conforto. Sabemos, por exemplo, que precisamos começar a dieta, ter mais paciência, deixar de ser centralizadores, ser menos reativos, cuidar do corpo… E decidimos mudar!
A decisão é real, sincera, visualizamos o objetivo como se já tivesse sido alcançado, conscientes de sua importância escolhemos uma data, levantamos da cama motivados e… duas horas depois já comemos aquele pedaço de bolo, saímos correndo arrastando o filho pela mão irritados por estarmos atrasados, centralizamos decisões porque “ninguém fez, então eu tenho que fazer”…
Diferente do salto de paraquedas — que uma vez feito não tem mais volta e o jeito é relaxar e curtir, com decisões que dependem de nossa força de vontade, disciplina e continuidade no tempo, na grande maioria das vezes desistimos ainda no início.
Segundo os pesquisadores Robert Keagan e Lisa Lahey, apenas 1 em cada 7 pessoas consegue manter a disciplina necessária ao estabelecimento de uma mudança importante em suas vidas. E isso refere-se inclusive à manutenção de rotinas importantes como, por exemplo, tomar diariamente um medicamento que garante a sobrevivência a um doente cardíaco crônico.
E quando nos perguntamos o porquê de não conseguirmos, na maioria das vezes a resposta é “não sei”.
Em sua pesquisa, Keagan e Lahey identificaram que a mente humana desenvolveu um verdadeiro sistema imune à mudança.
Este sistema é baseado em crenças profundas e inconscientes, aprendidas em diversas experiências de vida que levaram nossa mente a entender que deveria nos proteger de alguma maneira, através de um determinado comportamento.
Por exemplo, na pesquisa com doentes cardíacos crônicos, ao aprofundar no que fazia as pessoas deixarem de tomar o medicamento, em muitos casos, a crença inconsciente era de que uma pessoa que precisa tomar medicamentos constantemente está se tornando inválida e precisa deparar-se diariamente (cada vez que pega a caixa do remédio) com a ideia da morte.
Olhando por este prisma, com certeza não é nada fácil tomar consciência diariamente da impermanência da vida. É mais ou menos o mantra que grita durante a queda livre: “vou morrer, vou morrer, vou morrer”… Veja como o “sistema de imunidade à mudança” dessas pessoas estava, de alguma maneira, buscando protegê-las, mas… acabava caindo exatamente em um enorme paradoxo, que as aproximava ainda mais da possibilidade (real) da morte, pela falta do medicamento.
A partir desses estudos, Keagan e Lahey criaram um mapa da imunidade à mudança, um processo que ajuda a identificar, de forma visual e muito rápida, como atua esse nosso sistema imune e quais crenças centrais são os drivers, em cada pessoa, que as leva a se comportarem justamente da forma oposta ao alcance de seus objetivos.
O poder deste mapa é possível de ver pela mudança na feição das pessoas quando se deparam com seu sistema imune!
O Mapa da Imunidade à Mudança
Tive a oportunidade de aplicar o “Immunity to Change” em conjunto da amiga e consultora Catia Stasi, com participantes da Formação de Líderes Evolutivos da cuidadoria, além de já ter passado pelo processo e sentido na pele a clareza e os insights enormes trazidos por esta ferramenta.
Visualizar meu mapa e o de outras pessoas, além dos insights sobre minhas próprias crenças, me trouxe também uma reflexão do quanto precisamos ser menos julgadores e mais compassivos a respeito das atitudes (nossas e dos outros) e levar em consideração a quantidade de passos inconscientes que damos a todo momento.
Além disso, o simples fato de contemplar minhas crenças profundas já começou a clarear o caminho.
E agora é a hora que você me pergunta: “e o que eu faço para mudar de fato?”
Lembra do paraquedas? Então, mudança real não funciona assim… O objetivo de melhoria em geral está bastante distante da sua zona de conforto e para alcançá-lo, os passos são curtos, pisando poucos centímetros fora deste limiar, fazendo pequenos testes de mudança de atitude, permitindo-se ouvir seu sistema imune à mudança gritar “vou morrer” e perceber, depois de algum tempo, que você não morreu e que agora aquele pequeno passo fora da zona de conforto começa a ser incorporado a ela… Aí é a hora do próximo passo, da próxima decisão consciente e consistente, rumo a mudanças reais, duradouras e positivas…
Eu poderia terminar este texto aqui, mas quero alertar para dois pontos muito importantes quando formos lidar com decisões e mudanças, nas nossas vidas e com os outros:
A primeira delas é buscar a verdade sobre nós mesmos, compreendendo que estamos completamente inconscientes de grande parte daquilo que somos e do porquê agimos como agimos.
A segunda é acolher e ser compassivo. Ser compassivo não significa ser indulgente, deixar mudanças para amanhã ou relegar a segundo plano aquilo que é importante. Mas compreender que mudanças realmente significativas precisam ser construídas dia a dia, precisam de “reaprendizado” e muito “desaprendizado” e que, para isso precisamos ser gentis conosco mesmos.
Desconstruir crenças limitantes e reconstruir novas crenças, que potencializem mudanças positivas, leva tempo e aceitar isso pode ser a primeira e grande transformação, deixando de lado a ansiedade e as decisões impulsivas, que só nos fazem voltar mais rápido para a zona de conforto. A partir deste lugar, cada pequeno passo é uma grande vitória!