Vivemos num mundo cada vez mais conectado. A cada dia, milhares de novos computadores, celulares, dispositivos, câmeras e sensores se conectam à internet. Segundo o site The Statistics Portal, há 23 bilhões de dispositivos conectados à internet em 2018 e este número chegará a 75 bilhões em 2025.
Quando dizemos que o mundo está cada vez mais complexo, é disso que estamos falando. Com tantas conexões, a interdependência entre elas aumenta tanto que fica impossível fazer qualquer tipo de previsão com base no passado. Estamos na transição de um mundo previsível, linear, com relações claras de causa e efeito para um mundo imprevisível, exponencial, ambíguo e interdependente.
Esta tecnologia permitiu também que surgissem organizações em rede. Hoje, é possível agregar milhares de pessoas do mundo todo em torno de uma causa, trocar experiências, compartilhar recursos e colaborar em prol de um propósito comum, muitas vezes sem um centro definido. Daí surgiram os movimentos colaborativos, coletivos, redes, grupos, associações e negócios que usam a força do coletivo e as tecnologias de informação e comunicação para gerar impactos cultural, ambiental e social.
Tenho estudado e experienciado movimentos colaborativos e práticas de autogestão desde 2014 e percebi que, paradoxalmente, a tecnologia mais complexa é o que chamamos de Tecnologia da Colaboração — uma tecnologia que não depende de conexões elétricas mas sim de relações humanas.
A Tecnologia da Colaboração é um sistema high-touch altamente avançado, fruto de uma evolução de milhões de anos que todo ser humano possui mas devido ao condicionamento ao sistema competitivo e baseado no medo e na escassez, acabou se atrofiando. Este sistema conta com três centros de inteligência: corporal, emocional e racional. Normalmente, damos ênfase somente ao centro racional mas os centros corporal e emocional funcionam como sensores importantes que não devem passar por despercebido. Ao usar nossos sensores corporal e emocional, conseguimos conhecer nossos limites físicos e emocionais e da pessoa com quem nos relacionamos, respondendo adequadamente aos estímulos externos e à mobilização interna.
Além dos sensores, esta tecnologia conta com várias funcionalidades:
- Cuidado mútuo
- Capacidade de escuta, empatia e compaixão
- Comunicação autêntica
- Atenção plena
- Intuição
Para ativar esta tecnologia, temos que nos desapegar de modelos mentais baseados no medo e de condicionamentos de competição, escassez e desconfiança e aprender a abraçar o paradigma da colaboração, abundância e confiança, além de trabalhar o autodesenvolvimento e autoconhecimento para conectarmos com a nossa essência.
Isto nem sempre é fácil pois gostamos de começar pela parte prática. Normalmente, quando iniciamos um projeto ou empreendimento colaborativo pensamos no propósito do grupo e vamos direto ao ferramental como um grupo de WhatsApp ou um Trello. Ou então, em metodologias como “Dragon Dreaming” para criar e gerir projetos colaborativos. E há aqueles que preferem começar criando papéis e estruturas através da “Holacracia”.
Estas tecnologias podem até funcionar no começo mas não se sustentarão se a Tecnologia da Colaboração não estiver sido bem implementada. Normalmente, questões relacionais são o calcanhar de Aquiles das organizações que acabam minguando por falta de engajamento, energia baixa, conflitos, falta de alinhamento de propósito, etc. Se sua organização passa por esse tipo de problema, que tal avaliar como está a Tecnologia da Colaboração da sua equipe?
Acredito que o salto de complexidade irá empurrar o ser humano a um novo patamar de consciência. Para tanto, precisamos acessar e desenvolver cada vez mais as nossas tecnologias humanas, nosso potencial criativo, nossa capacidade de criar conexões verdadeiras com empatia e compaixão, integrando as inteligências racional, emocional, corporal e intuitiva às tecnologias digitais para navegarmos nesse mundo complexo e co-laborarmos de verdade a serviço do coletivo.