Quando falo que trabalho em uma organização horizontal, sem chefes e sem hierarquias, as pessoas logo perguntam: “Mas se não tem chefe, como vocês se organizam? Não vira bagunça? Quem vai decidir as prioridades, cobrar os prazos e supervisionar as entregas?”
A resposta é todos. Numa organização horizontal, ao contrário do que se pensa, todos são líderes. A liderança é situacional e todos lideram ou são liderados dependendo da situação. Como numa revoada de gansos migratórios que voam em “V”, onde o líder que voa a plenos pulmões quebrando o vento lá na frente é substituído por outro que se sente em condições de assumir seu lugar.
Ao contrário de uma orquestra onde o maestro tem uma posição de destaque e cabe a ele reger os músicos, a liderança situacional funciona como uma banda de jazz, onde cada músico se reveza para puxar um solo de improviso e todos vão seguindo e harmonizando.
Numa organização hierárquica tradicional, a posição de líder está ligada ao poder estrutural. O cargo é que define sua posição de liderança e o organograma lhe garante uma relação de poder e submissão dentro da organização.
Já, numa organização horizontal, o papel de líder deve surgir de forma natural e orgânica.
Para que isso ocorra, utilizamos várias ferramentas e práticas para que cada membro da equipe possa se sentir confortável para assumir (ou desassumir) as frentes que gostaria de trabalhar, seja por afinidade, habilidade, experiência ou vontade de aprender algo novo. Vou abordar estas ferramentas em outro post.
Jaime Moggi, em seu livro Liderando Pela Essência (Editora Antroposófica), aborda muito bem o tema da nova liderança e o papel do novo líder. Segundo Moggi, devemos em primeiro lugar, aprender a liderar a nós mesmos. Quebrar gerações de condicionamento do sistema patriarcal, em que o patriarca da organização decide o que é melhor pra nós, a qual projeto devemos nos dedicar, por quanto tempo e como atender as expectativas dele.
Nesse novo paradigma, o novo líder deve liderar pela essência. Ele deve aprender a comunicar seu propósito com paixão e clareza, ouvir com empatia, cuidar das relações, influenciar pessoas com seu carisma e através do exemplo, servindo o coletivo e deixando o ego de lado. Quem se encaixa mais com esta descrição? O CEO de uma grande multinacional ou um líder espiritual como Gandhi ou Dalai Lama?
Provavelmente, o novo líder (no caso, cada um de nós) deverá se espelhar cada vez mais naqueles que o inspiram através do exemplo, da ética e da integridade e aplicar seus ensinamentos na prática, para dessa forma possa liderar a si próprio e a organização a qual pertence.