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RELAÇÕES DE TRABALHO POLIAMOROSAS 

Por Henrique Katahira

Com o avanço da tecnologia o mundo está ficando cada vez mais complexo, interconectado e interdependente. A quantidade de conexões e oportunidades aumentam, criando novos modelos de trabalho distribuídos e descentralizados onde as pessoas podem trabalhar para mais de uma empresa, rede, coletivo, projeto ou causa simultaneamente. Esse tipo de relação está cada vez mais comum no ecossistema por onde transito.

Murilo Gun, palestrante e empreendedor, em um de seus vídeos fala sobre a poligamia. Ele afirma que nesse contexto de sociedade líquida, temos a permissão social de nos relacionar com múltiplos parceiros sexualmente e isso teria influência direta nas relações de trabalho.

Se pensarmos em como eram os relacionamentos afetivos há algumas gerações atrás, faz todo sentido. Na época dos meus avós, haviam casamentos arranjados e a palavra divórcio provavelmente não existia no dicionário. Na época dos meus pais, muitos tiveram a oportunidade de se casar por “amor” e os divórcios começaram a aparecer. Na minha geração, divórcio já não é mais tabu e na geração dos millenials, os relacionamentos abertos são cada vez mais comuns.

Fazendo um paralelo com o mundo do trabalho, na época dos meus avós as pessoas tinham pouquíssimas escolhas. Escolher uma profissão era um luxo para poucos. Hoje, as pessoas podem não só escolher a(s) carreira(s) que querem seguir como a forma que querem trabalhar. O desafio da vida moderna é que as redes possibilitam infinitas configurações o que pode ser confuso e levar a falta de foco, produtividade, conflitos e desgaste nas relações.

“Dentro de algumas centenas de anos, quando a história do nosso tempo atual for escrita numa perspectiva de longo prazo é muito provável que o evento mais importante que os historiadores irão apontar não é a tecnologia, nem a internet, nem o e-commerce. É uma mudança sem precedentes na condição humana. Pela primeira vez ocorre um crescimento substancial e rápido do número de pessoas que têm escolhas. Pela primeira vez, elas terão que gerenciar elas mesmas. E a sociedade está totalmente despreparada para isso.” — Peter Drucker

No meu caso, sou sócio da cuidadoria que é empresa de desenvolvimento humano com outras 3 sócias. Cada sócio é livre para empreender em outras iniciativas. Além disso, cada um pode firmar parcerias com pessoas ou organizações que possam complementar a atuação da cuidadoria e participar de projetos com eles. Temos uma parceria muito forte com uma empresa de consultoria que atua no mesmo ramo que o nosso. Numa lógica capitalista, seríamos concorrentes pois atuamos no mesmo ramo mas somos complementares em outros aspectos. Quando surge uma proposta, vemos se há complementaridade e montamos uma equipe do projeto que podem ter pessoas da cuidadoria e da consultoria parceira e faturamos em nome de quem prospectou. Esse tipo de relacionamento só é possível quando temos vínculos profundos e maduros. Para criar tais vínculos, é preciso conhecer os talentos e fraquezas de cada um, dar e receber feedbacks constantes, desenvolver autoconhecimento e ter um olhar sistêmico com foco na abundância.

A partir do desenvolvimento desse olhar, detectamos as oportunidades objetivando um crescimento orgânico, sem estressar o sistema ou criar competição interna. Quando olhamos para uma floresta, percebemos que a diversidade é que gera resiliência. Ninguém precisa regar ou adubar uma floresta pois ela prospera com sua própria energia, usando os recursos necessários sem se esforçar. Mas se derrubarmos a floresta para plantar uma monocultura de soja, uma hora o solo se degrada, o ambiente fica seco e temos que adubar e regar, gerando desequilíbrio e escassez. Precisamos aprender com a natureza para criar ecossistemas resilientes com vínculos profundos, que geram abundância, propósito comum, senso de cuidado mútuo e pertencimento.

Dentro desse contexto, acredito que estamos vivendo uma transição nas relações de trabalho, de um modelo monogâmico para um modelo que chamaria de poliamoroso em vez de poligâmico, onde há conhecimento e consentimento de todos, com acordos definidos previamente, com base no afeto e no cuidado mútuo. Apesar de todos os desafios e dores desse tipo de relacionamento é um excelente caminho de autodesenvolvimento profissional e pessoal. Você estaria disposto a trocar uma relacionamento estável no trabalho por uma relação de amor livre? Comente aí embaixo!