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Hora do Reset

O jeito de viver que conhecemos morreu! E um espaço para o novo se abre!

 

Por Thianne Martins

Como dar vida ao novo normal que quer nascer?

Nos últimos dias, tenho conversado com pessoas diversas, amigos, conhecidos... nessa quarentena adquiri o hábito de fazer uma espécie de check-in diário, cada vez com pessoas diferentes, na simples intenção de saber como elas estão, se estão enfrentando dificuldades, que coisas boas estão vivenciando, escutar percepções, trocar alguma ideia.

Essas conversas, além é claro do que também tenho vivido e compartilhado com o time da cuidadoria, vão ajudando a fazer algumas leituras (mais emocionais do que racionais em sua maioria e sem a pretensão de acertar) e ancorar tantas coisas que esse momento vem nos trazendo.

Me parece que chegamos a um momento em que a novidade da pandemia começa a ficar para trás. Depois que nosso jeito de viver foi sacudido, jogado para cima caindo no chão aos cacos, passado o susto e transitando nos traumas começamos a ver alguns dos cacos. E aqui, não estou falando da economia ou do sistema de saúde, mas de nosso mundo interno, de nossos hábitos, rotinas e formas de fazer.

Enquanto a ideia de um convívio com a invisível ameaça do vírus parece se assentar em nosso cenário mental, apesar de todos os incômodos e sofrimentos, algo parece pesar ainda mais: a clareza de que nada está garantido fica evidente é inegável.

Certeza, só uma: a da mudança. E para nós, aqui na cuidadoria, um exercício contínuo de abertura ao aprendizado, ao novo, pois se nos mantivermos rígidos e fechados aí sim o sofrimento será grande.

Vemos que cada passo que damos, cada decisão em nosso dia a dia vem acompanhada de uma lição. E a que salta aos nossos olhos é de que não há um minuto de repouso se não houver colaboração.

Tem duas palavrinhas que soam como mantras em nossos ouvidos: colaborar e confiar.

Uma vez ouvi uma frase que dizia algo sobre "descansar no poder do outro".

Nessa visão incluindo esse mantra em nosso dia a dia podemos reconhecer que não há outra possibilidade de viver, a não ser colaborando em todos os níveis e nos apoiando com nossos conhecimentos e habilidades, com nossa escuta e acolhimento, com a ressignificação e as celebrações de cada passo que damos juntos.

Colaborar e confiar.

Colaborar e confiar.

Colaborar e confiar.

Esse mantra não é novo pra gente e provavelmente não é novo para muitos de vocês. Mas fomos criados para a competição e para a desconfiança. Não aprendemos nenhuma das duas coisas de forma consistente... E essa profunda ressignificação mexe em estruturas que eventualmente podem ser mais dolorosas e gerar mais medo do que o próprio vírus.

Porém agora essas habilidades são absolutamente necessárias. Mais do que isso, a colaboração e a confiança são grandes alavancas que nos impulsionam em direção a criatividade e ao encontro de novas respostas e soluções para as questões tão complexas que enfrentamos!

A vida nos convida a resetar! E a hora é agora... Um novo sistema operacional interno começa a funcionar e, como tudo que é novo, traz em si um quantum de estresse... Por sorte temos um cérebro e um organismo suficientemente inteligente para gerenciar a complexidade. 

Trazemos em nosso sistema a possibilidade de upgrades, de aprender e nos adaptarmos. E a pergunta que vem a seguir é: como?

Nos últimos dias, algumas publicações me chamaram a atenção. Uma delas, uma entrevista com o neurologista Fabiano Moulin explica que o estresse tem um papel no nosso desenvolvimento. Ele ainda cita 20 tópicos que podem nos ajudar a transitar melhor em meio ao caos:

1) Precisamos que o ambiente nos chacoalhe para nos desenvolvermos;

2) O estresse é necessário para o aprendizado;

3) O dia é mais cansativo diante das imprevisibilidades. A melhor solução é criar uma rotina para minimizar o desgaste mental;

4) Estamos em um processo de luto social porque morreu uma maneira de viver no planeta; a negação é uma das formas de reagir;

5) O propósito é uma ferramenta que o cérebro utiliza para encarar situações adversas, sofrimentos;

6) Me dê um 'porquê' e eu suporto qualquer 'como';

7) As redes sociais foram atualizadas para hackear nosso sistema de recompensas. Por isso, use-as com intenção;

8) O tédio tem cura. Ela se chama curiosidade;

9) Uma das coisas que mais provoca medo é a perda da capacidade de ser maestro da própria vida;

10) Cuide para não deixar sua cabeça construir cenários pouco prováveis. Se não cuidar da cabeça nessa viagem entre futuro (ansiedade) e passado (depressão), pode ficar doente no presente;

11) O cérebro não distinque realidade de imaginação, ele nos faz sofrer nas duas situações;

12) Meditação é a engenharia da mente e deveria constar da grade escolar no ensino médio;

13) Todo nosso comportamento é uma hipótese a ser testada, não uma ortodoxia que se tenha certeza. Se algo der errado, vamos aprender a fazer de novo, sem vaias;

14) O propósito e o pertencimento aumentam a resiliência;

15) O celular é um ralo cerebral, que drena a energia afetiva e cognitiva;

16) O toque humano é essencial para a saúde e o desenvolvimento humano. Até ressignificar os comportamentos sociais, vamos sofrer um pouco. Vamos precisar reinventar o equivalente ao abraço e ao beijo;

17) Somos a felicidade, mas somos também a tristeza. Precisamos ser mais generosos conosco como costumamos ser com os outros; contentar-se com o suficiente, sem ficar sempre se cobrando a perfeição;

18) Espiritualidade, independente da religião, é fundamental para o equilíbrio do ser humano e do profissional;

19) Não importa o quanto você acredita no que dizem os textos da religião. Importa o quanto você faz na sua rotina em prol do que você acredita. Instituições que duram milhares de anos (as religiões) precisam ser estudadas e levadas muito a sério pela gente;

20) Saúde mental não é ser feliz 100% do tempo; é ter sintonia com o ambiente e o momento que estamos vivendo.

Especialmente o vigésimo que destaca a sintonia com o ambiente, me lembrou de que essa sintonia não se trata somente do ambiente ao que geralmente nos integramos, especialmente nas cidades - como casa, rua, escritório, etc. A sintonia me faz lembrar da inteligência da natureza.

Um excelente exemplo dessa sintonia que pode servir para praticarmos a colaboração são os estorninhos - pássaros que fazem voos em grandes grupos (de centenas ou até milhares de indivíduos) formando nuvens em movimentos rápidos e sincronizados como uma grande dança no céu, sem que nenhum pássaro encoste no outro.

Como nós podemos viver nesse novo ambiente sem tropeçar ou derrubar uns aos outros? Segundo o cientista George F. Young, nas nuvens de estorninhos cada indivíduo está atento a no máximo 7 outros pássaros seguindo seus movimentos. Assim, de 7 em 7, eles conseguem se organizar em uma grande rede colaborativa e, enquanto voam, trocam diversas informações como por exemplo onde há alimento ou local para dormirem.

Segundo Young "quando a incerteza está presente, interagir com 6 ou 7 vizinhos otimiza o equilíbrio entre a coesão do grupo e o esforço individual". A natureza nos ensinando, novamente, a colaborar e confiar!

Assim, como conclusão gostaria de sugerir a você duas perguntas... perguntas que não são para serem respondidas rapidamente, mas para serem levadas com você e que (acredito) podem ajudar nesse reset mental e emocional, para um movimento interno e externo em direção a uma sociedade mais colaborativa:

Quem é você quando você colabora?

Quem é você quando você confia?

 

Seguimos conectados!

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Murmuration: foto de Rhys Kentish

Foto da capa: Jukan Tateisi Unsplash